segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ode a Joaquim Agostinho

Que palmas, que louvores
merece aquele que rola,
trepa, sua e vence;
mas num instante, por terra,
homem e bicilcleta
são encontrados na ravina,
ou imóveis na valeta?
Ganha-se a fama, lá vai a vida....

A trezentos metros da meta
perde-se e ganha-se.
Basta um cão, um gesto, um revés!
Na planície tudo ficou
mais difícil do que em d'Huez,
em Cangas ou na caseira Torre.
Mas meninos, adultos e velhos
felicitam-te com bandeirinhas.

A trezentos metros da meta
perde-se e ganha-se.
Nas serras os galhos abanam
e as águas rugem frescas;
e tu pedalas encosta acima.
Esperas, humilde, por Poulidor
e Merckx que enaltecem a vitória:
beijos e palmas ao vencedor.

A trezentos metros da meta
perde-se e ganha-se.
Por todos os lugares o público
ladeia as ruas engalanadas
e tu passas de pedaleira
pesada rasgando alcatrão e pavé:
leal, lutador e ladeado
por Zoetemelk, Hinault, Thévenet...

A trezentos metros da meta
perde-se e ganha-se.
Agora regressas a casa
e os campos em Maio murcham
e lamenta-se o fado português
apesar das palmas desde Lisboa
a Torres e à tua Silveira
onde tens repouso em boa hora.

Que palmas, que louvores
merece aquele que rola,
trepa, sua e vence.
Cedo passaste nos Campos Elíseos!
Os deuses ficaram de olho em ti,
mas o fado é indiferente ao merecimento.
Todavia, é clássico, os deuses chamam
bem cedo os que mais amam.

JM 1984

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