terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Romance dos (o)fendidos

Era uma vez um povo embarcado
com viúvas e órfãos e cornudos a rodos
que saiu do rectângulo
com o trangulo mangulo
a descobrir e educar povos!

Finda a empreitada,
sentaram-se à sombra da obra
e das ferramentas já ferrugentas
carcomidas e roubadas ao tempo,
mas sempre a palrar no passado
como o gabarola de Esopo.

Vós que de humano o gesto tendes,
gretado o peito e empedernido
de tantas ofensas e sacrilégios
por dentro e por fora fendido
já por farpões arregimentados
livrai-vos de qualquer jeito
antes que sejais fundidos
totalmente,e incluídos no lote
dos romeiros indesejados.

Lá vai um destemido
com fúria grande e sonorosa
de pau ufano e feito
à procura da cicuta, em vão,
que socraticamente livrará
a nação desse ignavo sono
e grita-se em mole
como se acreditassem
num qualquer miserando encoberto!

Os mais velhos esgueiram um olhar
gasto e quase baço;
os assim assim ainda dardejam,
à socapa, como mastins acossados
por créditos a perder de vista;
os mais novos seguem indiferentes
de calças pendentes
de fones e tudo.
Os restantes, os eleitos,
arremessam as siglas mais brutais
com indiferença tal
que tanto se lhes dá que haja FMI,
BCE ou não,UE - Portugal!

JM - janeiro 2011

1 comentário:

  1. Hoje há três classes subjugadas cada uma à sua maneira: os velhos, os de meia idade e o novos. Vivem no limbo e esperam o futuro. Os primeiros aborrecidos com o nojo presente, os segundos com as contas e os terceiros numa boa, meu. No olimpo, com letra minúscula, claro, estão guardiãos do passado, presente e futuro, uma espécie de Jano moderno. Diz o povo tens duas caras. É isso mesmo.

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