Feliz aquele que planta o pomar
Na esperança de colher os frutos,
Ou que alguém os venha a colher.
Feliz quem cava, monda e rega.
Feliz quem poda, limpa e enxerta
Com vontade de melhorar as castas.
Eis então chegada a Pimavera:
Gomos, folhas, flores e frutos tenros
Brotam como se a vida acabasse de nascer
E ficasse assim até à eternidade...
No silêncio quente da encosta soalheira.
A imensidão de horizonte que banha
O Pomar de Barreiros e a nós,
No fim dum entardecer setembrino,
Torna-nos donos do mundo, a ti e a mim:
Tu colhes, no meio das macieiras, maçãs
Rubras, doces, perfumadas e reboludas;
Eu aprecio os teus gestos e aceito
Atentamente.
Foi assim à beira do poço,
Debaixo da sombra dos salgueiros,
Que falámos de sonhos por sonhar...
Esquecemos que havia passado e futuro.
O Pomar de Barreiros é maior
Que o Éden, pois ninguém ousou
Interromper a nossa colheita,
Nem proibir o que quer que fosse.
Podíamos ali, naquele idílico lugar,
Sem restrições, comer e saborear
Inocentemente.
Oh! quão felizes fomos eu e tu, Eva!
Mais do que quem plantou,
Cavou, mondou e regou;
Mais, mas muito mais felizes
Do que o podador e o enxertador,
A quem muita estima dirigimos.
Mas fomos nós, eu e tu, a colher os frutos
Do Pomar de Barreiros, por isso
Sentimo-nos mais felizes do que os deuses.
JM 87
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
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