Ergue-se, luta e sorri ao nosso lado
Como a cana suporta a espiga já madura
E apetecida…
É delicado tocar-lhe, mas retribui-se com ou sorriso.
JM
sábado, 28 de novembro de 2009
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Inocência
Dedico aos jovens palestinianos e judeus.
Foi escrita, esboçada, após ter lido
uma entrevista de um médico palestiniano exilado.
Os melros acasalam e os tordos queremos imitar.
Há ninhos e ovos frescos nos silveiros
E espreitamos as fêmeas a chocar.
Passamos pela sebe entrelaçada, ainda o sol aquece.
De mão dada com a tarde caminhamos:
O sol cederá lugar no trono, breve, à irmã lua.
Olhamos intensamente e sorvemos, livres, o derradeiro sol
E o prateado luar nascente.
Foi para isso que os deuses nos fizeram.
Nesse tempo,
Da guerra não conhecíamos, ainda, o horror,
Nem dos massacres em parte incerta.
Sabíamos apenas dos melros, dos tordos, dos ninhos
E ovos.
Essa paz queríamos imitar.
JM 1982
Foi escrita, esboçada, após ter lido
uma entrevista de um médico palestiniano exilado.
Os melros acasalam e os tordos queremos imitar.
Há ninhos e ovos frescos nos silveiros
E espreitamos as fêmeas a chocar.
Passamos pela sebe entrelaçada, ainda o sol aquece.
De mão dada com a tarde caminhamos:
O sol cederá lugar no trono, breve, à irmã lua.
Olhamos intensamente e sorvemos, livres, o derradeiro sol
E o prateado luar nascente.
Foi para isso que os deuses nos fizeram.
Nesse tempo,
Da guerra não conhecíamos, ainda, o horror,
Nem dos massacres em parte incerta.
Sabíamos apenas dos melros, dos tordos, dos ninhos
E ovos.
Essa paz queríamos imitar.
JM 1982
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
A Cesário Verde
Quando te conheci
Tinhas uma banca na praça
E vendias fruta de mil cores,
Pedi pêssegos e achaste graça
Por ter pedido algumas flores.
Comprei-as descuidado
Sem saber a quem as ofertar,
Esperando que alguém as pudesse merecer,
Mas o peso abonado deu para entender
Que a ti as flores havia d'entregar.
Experimentei também as uvas,
Enquanto tuas faces cor de ginja sorriam
E distraído apreciava as tuas madeixas
Que com a cor dos olhos condiziam:
Grandes, agudos e ovais como as ameixas.
E se pudesse comprar fiado
P'ra satisfazer os caprichos da ansiedade,
Comprava-te toda a fruta da banca,
Arrumavas e escrevias: "Fechado",
P'ra passear contigo pela cidade.
Já dava na Sé o meio-dia,
E tu, que prometeras, sem aparecer,
Outras dardejavam-me com olhares
E passavam velozes, sem vagares
P'ra perguntar o que estava a acontecer.
De súbito entravas na igreja,
Sem saber quem disso havia curado,
Trazias o teu corpo de fruta perfumado
E o tal ramo de flores mimosas
Que às dardejantes fazia inveja.
Se ao menos fosse verdade...
Mas não! Que pensamento o meu?
Batia a uma hora e eu ali especado
A ser cada vez mais dardejado,
À espera daquilo que nunca aconteceu.
Marrão 82
Tinhas uma banca na praça
E vendias fruta de mil cores,
Pedi pêssegos e achaste graça
Por ter pedido algumas flores.
Comprei-as descuidado
Sem saber a quem as ofertar,
Esperando que alguém as pudesse merecer,
Mas o peso abonado deu para entender
Que a ti as flores havia d'entregar.
Experimentei também as uvas,
Enquanto tuas faces cor de ginja sorriam
E distraído apreciava as tuas madeixas
Que com a cor dos olhos condiziam:
Grandes, agudos e ovais como as ameixas.
E se pudesse comprar fiado
P'ra satisfazer os caprichos da ansiedade,
Comprava-te toda a fruta da banca,
Arrumavas e escrevias: "Fechado",
P'ra passear contigo pela cidade.
Já dava na Sé o meio-dia,
E tu, que prometeras, sem aparecer,
Outras dardejavam-me com olhares
E passavam velozes, sem vagares
P'ra perguntar o que estava a acontecer.
De súbito entravas na igreja,
Sem saber quem disso havia curado,
Trazias o teu corpo de fruta perfumado
E o tal ramo de flores mimosas
Que às dardejantes fazia inveja.
Se ao menos fosse verdade...
Mas não! Que pensamento o meu?
Batia a uma hora e eu ali especado
A ser cada vez mais dardejado,
À espera daquilo que nunca aconteceu.
Marrão 82
O Pomar de Barreiros
Feliz aquele que planta o pomar
Na esperança de colher os frutos,
Ou que alguém os venha a colher.
Feliz quem cava, monda e rega.
Feliz quem poda, limpa e enxerta
Com vontade de melhorar as castas.
Eis então chegada a Pimavera:
Gomos, folhas, flores e frutos tenros
Brotam como se a vida acabasse de nascer
E ficasse assim até à eternidade...
No silêncio quente da encosta soalheira.
A imensidão de horizonte que banha
O Pomar de Barreiros e a nós,
No fim dum entardecer setembrino,
Torna-nos donos do mundo, a ti e a mim:
Tu colhes, no meio das macieiras, maçãs
Rubras, doces, perfumadas e reboludas;
Eu aprecio os teus gestos e aceito
Atentamente.
Foi assim à beira do poço,
Debaixo da sombra dos salgueiros,
Que falámos de sonhos por sonhar...
Esquecemos que havia passado e futuro.
O Pomar de Barreiros é maior
Que o Éden, pois ninguém ousou
Interromper a nossa colheita,
Nem proibir o que quer que fosse.
Podíamos ali, naquele idílico lugar,
Sem restrições, comer e saborear
Inocentemente.
Oh! quão felizes fomos eu e tu, Eva!
Mais do que quem plantou,
Cavou, mondou e regou;
Mais, mas muito mais felizes
Do que o podador e o enxertador,
A quem muita estima dirigimos.
Mas fomos nós, eu e tu, a colher os frutos
Do Pomar de Barreiros, por isso
Sentimo-nos mais felizes do que os deuses.
JM 87
Na esperança de colher os frutos,
Ou que alguém os venha a colher.
Feliz quem cava, monda e rega.
Feliz quem poda, limpa e enxerta
Com vontade de melhorar as castas.
Eis então chegada a Pimavera:
Gomos, folhas, flores e frutos tenros
Brotam como se a vida acabasse de nascer
E ficasse assim até à eternidade...
No silêncio quente da encosta soalheira.
A imensidão de horizonte que banha
O Pomar de Barreiros e a nós,
No fim dum entardecer setembrino,
Torna-nos donos do mundo, a ti e a mim:
Tu colhes, no meio das macieiras, maçãs
Rubras, doces, perfumadas e reboludas;
Eu aprecio os teus gestos e aceito
Atentamente.
Foi assim à beira do poço,
Debaixo da sombra dos salgueiros,
Que falámos de sonhos por sonhar...
Esquecemos que havia passado e futuro.
O Pomar de Barreiros é maior
Que o Éden, pois ninguém ousou
Interromper a nossa colheita,
Nem proibir o que quer que fosse.
Podíamos ali, naquele idílico lugar,
Sem restrições, comer e saborear
Inocentemente.
Oh! quão felizes fomos eu e tu, Eva!
Mais do que quem plantou,
Cavou, mondou e regou;
Mais, mas muito mais felizes
Do que o podador e o enxertador,
A quem muita estima dirigimos.
Mas fomos nós, eu e tu, a colher os frutos
Do Pomar de Barreiros, por isso
Sentimo-nos mais felizes do que os deuses.
JM 87
Elegia II
Ao Manuel Inácio,
Falecido tragicamente em 2 de Setembro de 1986
Regressado a ti, terra natal,
Depois de algum tempo de ausência,
Quero, como é costume antigo
E legados dos nossos antepassados,
Aproveitar para, mais uma vez
Em campo santo, prestar homenagem
A um amigo que só um instante
Nos separa.
Quão cedo quiseram tragicamente
Roubar-te do convívio?
Cedo quiseram arrefecer o fulgor
Da auréola dos vinte e três anos,
Com a dádiva feita à terra fria?
Mas se, por um lado, dói esta partida,
Que ausência sempre dor causou,
Não é menos real teres vantagem
Sobre nós que aqui na terra obramos:
Gozas já das delícias do além,
Enquanto nós ainda esperamos.
Amen.
JM
Babe, 12 de Julho 1987
Falecido tragicamente em 2 de Setembro de 1986
Regressado a ti, terra natal,
Depois de algum tempo de ausência,
Quero, como é costume antigo
E legados dos nossos antepassados,
Aproveitar para, mais uma vez
Em campo santo, prestar homenagem
A um amigo que só um instante
Nos separa.
Quão cedo quiseram tragicamente
Roubar-te do convívio?
Cedo quiseram arrefecer o fulgor
Da auréola dos vinte e três anos,
Com a dádiva feita à terra fria?
Mas se, por um lado, dói esta partida,
Que ausência sempre dor causou,
Não é menos real teres vantagem
Sobre nós que aqui na terra obramos:
Gozas já das delícias do além,
Enquanto nós ainda esperamos.
Amen.
JM
Babe, 12 de Julho 1987
Elegia I
Vinha curvo pela tarde caminhando
Por um carreiro umbroso, escuro.
Os sinos em acordes iam tocando
Talvez por um amigo ou familiar
Que foi chamado a contas com o eterno,
Ainda moço, ao derradeiro lar.
E nesse agre silêncio de morte
Que atravessava frio corpo e alma,
Lastimava em vão de quem fosse a sorte...
Que triste ter de entregar a vida!
Pior é que ainda nos surpreende,
Desde imemoriáveis tempos garantida.
É que a surpresa não está na sombra,
Mas nela: ensombra uns e colhe outros,
E ninguém é senhor da sua hora.
Marrão 86
Por um carreiro umbroso, escuro.
Os sinos em acordes iam tocando
Talvez por um amigo ou familiar
Que foi chamado a contas com o eterno,
Ainda moço, ao derradeiro lar.
E nesse agre silêncio de morte
Que atravessava frio corpo e alma,
Lastimava em vão de quem fosse a sorte...
Que triste ter de entregar a vida!
Pior é que ainda nos surpreende,
Desde imemoriáveis tempos garantida.
É que a surpresa não está na sombra,
Mas nela: ensombra uns e colhe outros,
E ninguém é senhor da sua hora.
Marrão 86
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