sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Fraga da Corvaceira

Espero na fraga e avisto a leveza
dos pássaros, a dureza das pedras,
o rumor das águas, a sombra do vale,
as curvas da estrada.

O contorno crepuscular dos montes
exala perfumes multiplicados
pelos nadas que me visitam,
mas não os posso agarrar.

Imagino-me sentado a contemplar
a flexibilidade dos vimes
arqueados sobre as águas
que descerão até ao infinito...

E, da gruta da fraga, o ecoar
dos murmúrios das mouras encantadas,
como nas lendas ditas, à espera
da palavra mágica, fascina-me.

Mas não ouso entrar porque tenho
encontro marcado com a minha Circe.
Espero-a aqui na fraga e sei que virá
saltitando de nuvem em nuvem.

Descerá num raio de sol restante
e juntos passaremos, fraga, ficarás tu
por cá a olhar a estrada
adormecida pelo ribeiro cantante.

JM

Este surgiu de uma brincadeira entre amigos. Combinámos fazer versos a sítios da aldeia. Sempre me fascinou a gruta da Fraga da Corvaceira, lugar onde os corvos faziam os nihos. Está situada num vale junto ao ribeiro da Sapeira. De um lado do vale a fraga, do outro, na parte soalheira, a estrada. Foi iniciado na Adega do António Centeno. Histórias, copos, noites....Não é o original. Talvez seja de 1980/81, mas foi retocado várias vezes até 85?, altura que tinha tempo livre, lia, ecrevia, cinema, encontros e desencontros... A Circe também era outra.

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